Fantasia Submarina (1939)
Que tem Rossellini que ver com Nemo, o peixe-palhaço?
Muito provavelmente nada. E, contudo, se pensarmos
em histórias de peixes no cinema,
muito antes de À procura de Nemo,
teremos de contar com esta Fantasia submarina,
história com protagonista e herói ictíco
sobre os perigos do mar e sobre o amor.
Curioso objecto fílmico, este.
Seríamos tentados ver nele um documentário
sobre a vida submarina, daqueles documentários animistas,
de fotografia esplêndida, sempre excessivamente antropocêntricos,
que projectam no animal observado motivações humanas.
Naturalmente não é o caso:
Rossellini tem a honestidade
de chamar à curta-metragem «fantasia».
Fantasia é, com efeito, o que se faz quando,
mesmo socorrendo-se da ciência, o documentarista «vê»
naquilo que observa sem compreender uma história.
Na verdade, o documentarista tece um enredo
a partir das imagens disponíveis, faz montagem.
A narração é um enleio, um fio que dirigem a atenção
do espectador, de modo a dar um sentido às imagens.
É a função da voz-off neste filme,
como o é nos citados documentários.
Aqui, Rossellini vai porém mais longe:
o que acontece não só está ligado pela narração e montagem,
como são fios reais que fazem acontecer o que acontece,
e os peixes, «actores» obrigados a seguir o guião,
dirigidos pelo realizador ou assistentes
debruçados sobre o aquário que simula as profundezas marítimas.
Mas não é o cinema sempre isso: uma reconfiguração do real,
uma reconstrução, ficção, fantasia?