Six men getting sick (1967)

David Lynch (1946...)

Nas curtas de Wells e de Burton tivemos a obsessão,
temos agora, com Lynch, o primeiro exemplo de violência
e de uma violência compulsiva, mal-estar
que se exterioriza vindo das entranhas, vómito.

Obsessão e violência são dois motivos recorrentes
nos primeiros ensaios dos mestres do cinema,
e este facto só pode ser significativo.

Vimos a obesessão pelos objectos em The Hearts of Age,
(pianos, bolas de árvore de natal, cruzes),
realçada pela insistência de certas imagens
e pelo balouçar infindável da velha na sua cadeira.
(Sintomaticamente, o motivo da obsessão pelos objectos
reaparecerá sob a forma de «Rosebud», em O mundo a seus pés.)

Vimos em Vincent a obsessão por uma figura dos filmes fantásticos
e de terror, Vincent Price, e por toda a imagética tétrica de Poe.

Não admira: a obsessão é uma espécie de posse pelo outro,
ou uma espécie de entrega à vontade do outro.
É inevitável que o jovem criador viva esta dualidade:
o fascínio, por um lado, a angústia da influência, por outro.
Não é uma situação confortável, pois, as ideias
que o movem e surgem como suas são afinal réplicas
de algo incosnciente, ou escondido e admirado em segredo.
E é por isso que a violência é a outra face da obsessão.
A violência é um modo do corpo ser contra os seus limites,
uma forma da criatividade se afirmar categoricamente,
de se arrimar com tudo o que não tem, não obstante os golpes
que possam daí decorrer. (Verifique-se como tal compromisso
é levado ao extremo em The big shave de Martin Scorsese.)

No filminho de Lynch existe também esta violência,
mas mediatizada pela animação de telas
(ele que começou como pintor e que não desdenharia
certamente a obra de Francis Bacon).
Não há sangue, mas tinta vermelha em substituição.
(E não será por acaso que a cor encarnada
será precisamente uma constante
do universo singular de Lynch.)

De resto, se há algo que sobressai destas curtas
é precisamente a sua singularidade: são demandas,
mas são também indícios do que haveria de vir;
e, se um realizador é grande, é-o sobretudo
porque soube impor uma visão singular do mundo.