O velho e o mar (1999) - parte 1
Nove anos depois da adaptação de Jud Taylor, com Anthony Quinn no papel de velho, esta adaptação de Aleksandr Petrov ao filme animado do clássico de Ernest Hemingway valeu-lhe prémios, tal como valera ao autor de Por quem os sinos dobram o Prémio Pulitzer em 1953 e contribuira grandemente para a atribuição do Prémio Nobel em 1954.
É porque estamos diante de um grande documento estético. Mas é também porque estamos diante de «um breviário nobilíssimo da dignidade humana» (Jorge de Sena) transposto para animação. Jorge de Sena, que traduziu o livro, chama-lhe mesmo «poema em prosa» e eu concordo. E não será por acaso que, enquanto vejo as longas metragens como siamesas do romance ou da sinfonia, as boas curtas sempre se me afiguraram como poemas visuais.
Ainda assim, será bom que pela mão da imagem se volte à palavra e se torne a ler:
Era um velho que pescava sozinho num esquife da Corrente do Golfo, e saíra havia já oitenta e quatro dias sem apanhar um peixe...
Uma das razões é porque a palavra de Hemingway mostra o que o pequeno filme de Petrov não mostra: a espessura do tempo de que é composta a espera e a persistência do velho...